Minha querida amiga

Na primeira vez que te encontrei não pude ver seu rosto. O medo me impedia de olhar. Ainda assim ficamos juntos por algum tempo. E durante aquele encontro você me ensinou o verdadeiro valor das coisas. Na segunda vez que te encontrei não pude ver seu rosto mas tive a coragem de tocar seu corpo. Você me pareceu fria e sem vida. Ficamos juntos por pouco tempo. Nesse curto encontro você foi alívio. Na terceira vez que te encontrei não pude ver seu rosto. Não toquei seu corpo. Não senti alívio. Mas choramos juntos. Agradeci pela sua companhia. Soube que tinha em você uma amiga.

Hoje, minha querida amiga Morte, ao abrir os olhos te vi na minha frente. Nua. Sem aviso você se fez presente em todos os cantos. Seu rosto era tudo aquilo que já tinha sido e que hoje é chão para tudo aquilo que ainda é. Em meio a esse encontro você me disse — Tudo que você ama vem ao meu encontro para que um dia você perceba quem eu sou — e sorriu.

A Morte era inegavelmente Amor.