Bem mais de cem

Tenho tantas coisas que tenho medo de contar
De coisas para ler, umas 70
e isso, até que não é de se impressionar
De coisas para ver nas paredes, 19
e alguma coisa me faz querer arredondar
De coisas em uma das gavetas, 22
mas noutra, um pouco maior, eram muitas mais
De coisas vivas, são só 4
pois as aranhas e as formigas não são minhas
De coisas que cantam, tenho 8
e essas poucas coisas me valem o dobro
De coisas ao chão, contei 40
em um dia bom consigo chegar à metade
De coisas para pensar, não quis contar
mas o suficiente para não me deixar dormir
De coisas que boiam, pelo menos 5
pois o resto não joguei ao mar para atestar
De coisas feitas para voar, 4
e nessas coisas, felizmente, me encontro

Tenho tantas coisas que tenho medo de contar
E essas coisas me têm também
Talvez, dessas tantas coisas, eu seja refém
Digo a essas coisas que a mim elas não pertencem mais
Estão livres para ir! Não que eu vá fazer isso à força
Mas sinto que algumas não foram por não saber ser possível

Espero assim um dia acordar com menos coisas e poder falar
Tenho poucas coisas e não tenho medo de contar